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26 de mar. de 2010

A resposta da Skol sobre as latas no fundo do mar em ação pobre e mal divulgada - Por Sandra Campos

A Skol tenta se livrar da repercussão negativa sobre a marca com a matéria sobre o lixo no fundo do mar nas praias de Salvador.

Recebi de um amigo um post no blog Brainstorm, que começa com um texto fraco sobre o carnaval e depois passa para o foco principal do assunto, que é uma ação que será desenvolvida pela Skol nas praias de Salvador, onde alguns mergulhadores entrarão nas águas da Praia da Barra e catarão as latinhas no fundo do mar. Mais de um mês depois da festa. Será que ninguém se lembra que o mar tem correntes marítimas? Ou todos acham que as latinhas estão todas ali, ainda!

Engraçado...não ouvi nada aqui a respeito disso, não houve divulgação desta ação e tampouco as pessoas estão comentando.

O que mais me entristece como ser humano é que é nítido que a Skol apenas está tentando limpar a repercussão negativa que ficou gravada nas imagens divulgadas na matéria “O fundo da folia!”, escrita por Bernardo Mussi com fotos de Francisco Pedro e divulgada pela ONG Global Garbage, sendo posteriormente repassada através de blogs e sites.

Por que a Skol não pega uma parte da sua verba de marketing para publicidade e não investe pesado nessa conscientização? Por que ela não usa seu poder, junto com a AMBEV para resolver essa questão de uma vez junto com Prefeitura de Salvador, Governo do Estado, blocos e artistas de carnaval e a Organização do Carnaval de Salvador e festas similares que ocorrem na praia?
Ridículo! É um “cala a boca” pobre em ação mal feita, menosprezando a inteligência de quem está disposto a fazer alguma coisa.

Vamos lá pessoal da Skol, se liguem, já que vão fazer publicidade em cima do caso, façam direito! Cobrem dos artistas, governantes, mídia local, organização do carnaval, enfim, cobrem atitudes de quem ganha dinheiro com a festa, para que nos próximos anos isso não se repita, pois essa é a verdadeira ação, conscientizar e evitar a mesma história.

8 de mar. de 2010

O fundo da folia - por Bernardo Mussi

Dez dias após o carnaval, resolvi mergulhar com dois amigos na área do Farol da Barra para confirmar a notícia de que havia uma quantidade absurda de lixo espalhada pelo fundo do mar naquela área.

Mesmo com a água um pouco suja por causa das chuvas do dia anterior, logo identificamos o local. Na verdade o lixo não estava espalhado, mas concentrado em um canal provavelmente em razão do movimento das marés. Uma cena lamentável! Eram pelo menos mil e quinhentas latinhas metálicas e garrafas plásticas.

Da superfície o visual parecia com as imagens áreas que vemos dos blocos de carnaval durante a festa. Só que ao invés de estarem pulando, dançando e se beijando ao som frenético e ensurdecedor dos trios elétricos, os foliões do fundo do mar estavam rolando de um lado para o outro numa mórbida coreografia, empurrados silenciosamente pelo balanço do mar, sem dança, sem alegria, sem vida e sem poesia. Assustados, decidimos não retirar o material naquele dia na esperança de tentar sensibilizar algum veículo de comunicação para fazer uma matéria com imagens subaquáticas. A intenção era compartilhar aquela agressão carnavalesca com nossa população e os donos da folia.
Fizemos contato com pelo menos três emissoras e todas pediram que enviássemos e-mails com fotos, o que fizemos imediatamente. Aguardamos respostas por dois dias e como não tivemos qualquer retorno, optamos por retirar o lixão de lá para evitar maiores danos.
A bem da verdade estávamos super desconfortáveis com nossas consciências por termos testemunhado aquela cena e deixado para resolver o problema dias após. Mas tínhamos que tentar a matéria para que a ação não se resumisse somente à coleta do material.
Tínhamos em mente que a repercussão sensibilizaria os empresários e artistas do carnaval, os órgão públicos, a imprensa, as empresas financiadoras e nossa gente. A tentativa foi boa, mas não rolou…
Fomos então, no terceiro dia após o primeiro mergulho, retirar o material. Antes, porém, fiz questão de chamar um amigo que tem uma caixa estanque para filmarmos a ação e guardarmos o documentário visando trabalhos futuros e até mesmo a matéria que queríamos na TV.

Sem cilindro de ar e contando apenas com duas pranchas de SUP (Stand Up Paddle) e alguns sacos grandes, éramos quatro mergulhadores ousados retirando do fundo do mar tudo o que podíamos naquela tarde.
Pouco antes de o sol se pôr conseguimos finalmente colocar todo o lixo na calçada.
Muitos curiosos, inclusive turistas, olhavam intrigados a nossa atitude e a todo o instante nos questionavam sobre a origem daquele resíduo. A resposta estava na ponta da língua: Carnaval!
Vou logo informando aos amigos leitores que não sou contra o carnaval, muito pelo contrário, sou fã por diversos motivos, mas acho que a realidade da festa não guarda a menor relação com as belíssimas cenas, as informações rasgadas de elogios e a excessiva euforia amplamente divulgada pela mídia.

Sei que o comprometimento com os patrocinadores e aquela velha guerrinha de vaidades contra os carnavais de outros estados como Pernambuco e Rio de Janeiro, acabam conspirando para isso. Mas vejo aí um modelo cansado, super dimensionado, sem inovações socialmente positivas e remando na direção oposta ao desenvolvimento sustentável da nossa cidade.

Aquele lixo submarino é um pequeno sinal deste retrocesso. Pior, patrocinado solidariamente pelos grandes empresários, artistas e principalmente pelo poder público que tem o dever de melhorar nossa segurança, nossa saúde e educação.
Aproveito o embalo para incluir indignação semelhante sobre os eventos realizados na praia do Porto da Barra durante o verão.

O “Música no Porto” e o “Espicha Verão” não tem trazido nada de bom para nossa cidade, além da oportunidade de vermos ótimos artistas de perto e de graça. De resto, o lixo, o mau cheiro, a degradação ambiental, o xixi pelas ruas, a impressionante quantidade de ambulantes amontoados por todos os espaços públicos e a agressão aos patrimônios históricos, são um grande “pé na bunda” do turista de qualidade. É o mesmo que olhar para uma bela maçã com a casca brilhante e aspecto suculento, porém, apodrecida por dentro…

Naquele final de tarde acabamos contemplando um por do sol diferente. O monte de lixo empilhado na calçada do Farol da Barra virou atração. E como Deus é grande, fomos brindados com a presença de valorosos catadores de rua para finalizar a limpeza.

Desta ação, além das ótimas imagens documentadas em vídeo, resta rezar para que os donos do carnaval, dos eventos no Porto da Barra e nossos queridos foliões se toquem que algo tem que mudar.
O fundo do mar não merece aquele bloco reluzente e, ao contrário do asfalto, o oceano costuma revidar violentamente as agressões sofridas.
Não tem alegria alguma no fundo da folia!
Fotos: Francisco Pedro / Projeto Lixo Marinho - Global Garbage Brasil
Fotos do Espicha Verão: Manuela Cavadas e Luciano da Matta / Agência A Tarde